Violência Doméstica: quando o homem é a vítima

 

- Os conflitos entre Johnny Depp e Amber Head levam a repensar as complexidades das relações de gênero e a violência doméstica. -

São Paulo, 28 de Abril de 2022.

Nos últimos anos, o mundo passou a assistir às acusações trocadas entre Johnny Depp e Amber Head. O casamento deles, ocorrido entre 2015 e 2017, acabou muito mal, em meio a supostos atos de violência física e agressões verbais. Ela, se dizendo vítima do marido, pediu o divórcio em 2016 e conseguiu um acordo financeiro vantajoso. Não satisfeita ressuscitou o caso em um artigo de jornal, publicado em 2018 no The Washington Post, o que reinflamou a opinião pública contra ele, que perdeu milhões de dólares em ofertas de trabalhos e viu sua popularidade de ator respeitável, construída ao longo de décadas, despencar.

Depp, eleito pelo grande público como o vilão desse drama doméstico, acabou não deixando por menos. Processou a ex-esposa por difamação e agora, em meio ao julgamento, relata a sua versão dos fatos. Foi preciso isso, a ruidosa ruína da relação entre dois atores famosos, para que se passasse a questionar o paradigma de que a mulher é sempre a única vítima.

Embora o processo ainda esteja em andamento, sem uma conclusão, já há indícios o bastante de que se o marido cometeu violência, a esposa não deixou de cometê-la também. Depoimento de Shannon Curry, psicóloga clínica e forense, aponta Head como portadora de distúrbios de personalidade borderline e personalidade histriônica. Difícil não se emocionar com as descrições de Depp da violência que ele mesmo sofreu... De qualquer forma, ambos fizeram muito mal um ao outro. 

Repentinamente, o público, que a princípio condenou Depp, foi obrigada a reabrir seu tribunal de cancelamento virtual e repensar. Ganhou evidência gritante, acima da impulsividade condenatória reinante, o óbvio: independentemente do veredito do processo em andamento, toda história tem mais de um único ponto de vista a ser considerado. Sim, os homens também sentem dor e sangram.

Com as redes sociais emergiu o fenômeno das interpretações simplistas de questões de gênero (e não só delas). Adoção de pontos de vista unilaterais, explicações mal fundamentadas, generalistas e padronizadas para julgar casos com características distintas e complexas ganharam terreno... Porém, a vida não acontece em preto e branco. Muitas vezes predomina o cinza, em outras há cores fosforescentes, que representam sofrimentos pouco evidentes sem nenhuma alegria. E há casos em que predominam as cores suaves, inocentes, que encobrem fatos horrendos. 

E assim, a era da ingenuidade das redes sociais continua transitando rumo à maturidade. que ainda parece distante.