Primeiras Impressões: Theodore Dalrymple


Theodore Dalrymple é um nome que surgiu para mim muito recentemente. Há poucas semanas, quando me propus a aventura de fazer um reconhecimento da literatura mencionada por comentaristas da direita brasileira. Tal empreendimento se justifica como esforço para fundamentar melhor as minhas próprias posições quanto às tendências de pensamento político que estão em circulação. Começar por Olavo de Carvalho me pareceu uma obviedade. E foi justamente em uma passagem de texto de Olavo – relacionando seus autores preferidos – que o nome Dalrymple me chamou a atenção. Procurei saber quem era, e descobri tratar-se do pseudônimo de um médico inglês, um psiquiatra, na verdade chamado Antony Daniels (1949-) que trabalhou em vários países e também no sistema prisional britânico. Autor de mais de trinta livros, escreve para jornais e revistas importantes como The Times e The Observer.

No momento, estou com vários livros de ambos, Olavo e Dalrymple, ao meu redor e devo escrever sobre eles. Por hora, quero falar das minhas primeiras impressões sobre Dalrymple.

Li quase todo o seu Em Defesa do Preconceito: a necessidade de se ter ideias preconcebidas, que deixei temporariamente de lado para iniciar a leitura de Nossa Cultura, Ou o Que Restou Dela. Também li alguns dos capítulos de Qualquer Coisa Serve. Todos publicados pela editora É Realizações, como parte da sua Coleção Abertura Cultural. Se eu tivesse que classificá-los, não diria que são livros de filosofia, mas sim de crítica cultural.

De início me pareceu curioso que Olavo tivesse Dalrymple em tão boa conta… Olavo tinha um estilo truculento, tanto em textos (menos) quanto em vídeos. Suas provocações são insultos antes a pessoas do que às ideias, que ele raramente discutia com propriedade. Dalrymple é o oposto. É um escritor que se serve dos recursos de linguagem de modo a se expressar de maneira polida, respeitosa. A impressão que ele deixa é de um homem experiente e culto com alma nobre. Seus momentos de ironia e humor nunca soam ofensivos. Há um permanente convite ao diálogo de alto nível. Ler Dalrymple é como conversar com um amigo que nos conta suas observações e, mesmo quando discordamos de suas opiniões (e discordamos muitas vezes), ainda permanecemos dispostos a ouvir e procurar entender seus vários pontos de vista.

E não se trata de um retórico ou de um mero preferencialista. É antes um perspectivista, alguém que sabe que a razão é um rio que flui, cujas águas podem ser desviadas em muitas direções e serem observadas de diferentes ângulos. Outro motivo para estranhar que Olavo o estimasse, já que o “guru” era obsessivo em seus julgamentos e ideias fixas.

Infelizmente, no Brasil, a direita escolheu seguir o estilo de Olavo, não o de Darlymple, primando por soar e manter-se como âmbito marcado por ideias e comportamentos em que falta maturidade e  bom senso. Quanto a Darlymple, cabe, possivelmente, o destino de ser um inspirador das discussões que realmente levem a uma significativa e proveitosa abertura cultural.