O Woke em Alto Mar

Como tudo o mais, também os wokes estão sujeitos à transformação.


A História demonstra que não há lado político  absolutamente certo. Direita e esquerda estão em contínua construção e em ambos se erra ao defender comportamentos extremos. Totalitarismo não é privilégio de lado algum, é sempre o extremo de algum dos lados. Sábio seria tomar como princípio de ações políticas a síntese do que há de positivos em cada lado. 

Enquanto produção e troca são atividades indispensáveis para a sobrevivência humana no planeta, as divergências sempre dizem respeito às condições, aos modos de produzir, comercializar e dividir recursos, que impulsionam relações de poder entre padrões comportamentais e de interação na sociedade. O modo como se vive delimita subjetividades, molda consciências e inconscientes.

Neste contexto, quando eu digo que “o woke não se aventura a agir para destruir o sistema capitalista e substituí-lo por algo melhor! Pelo menos não ainda”, levo muito a sério o “ainda”... O woke é um tipo humano que “acende uma vela para Deus e outra para o diabo”, mas que permanece nadando em alto mar, com muito pouco ou nenhum controle sobre as marés. Em momentos ele vaga para a esquerda, em outro ele flutua para a direita. E não se deve ignorar o poder do inesperado!
 
O Marx que tanto criticou o capitalismo foi o mesmo que não deixou de reconhecer a importância das criações culturais burguesas, levadas a cabo ao preço de vidas e do esgotamento do planeta. O woke, de bom grado, é um defensor da vida em suas múltiplas modalidades, do paneta e do cosmo – até que ameaças de danos e perdas batam na sua porta, claro! Se as marés não o colocam em risco perceptível, ele tende a nadar "pelo bem maior" sem maiores preocupações.



O caso de Eduardo Moreira, o economista, é emblemático. Um banqueiro que em meio ao próprio “despertar”, quis conviver com realidades desconhecidas como fazem os acadêmicos da Antropologia. Note a presença do que Pondé chama de “fetiche de riquinho”, característica dos wokes! Foi ainda em estado de wokeísmo fetichista, que a curiosidade levou Moreira a vivenciar outras realidades, o que acabou por fazer com que seu ego o impulsionasse a querer fazer e ser diferente. O resultado prático é o que Mark Fischer chama de “instrumentalizar a libido para propósito político", segundo ele o ponto de partida para a construção de novas ferramentas a serem utilizadas no processo de criação de outros modos de viver e pensar, com potencial de implodir o capitalismo. 

Moreira, como resultado de sua aventura, fundou o Instituto Conhecimento Liberta (ICL) e hoje se posiciona firmemente à esquerda e contra o financismo bancário. Disposto a provocar e despertar consciência crítica, ele vem reunindo um time de intelectuais de peso e lançando cursos, documentários, livros, debates, todo um volume de produtos culturais necessários a uma sociedade ameaçada de extinção por força da alienação... Ora, e quem mais dispõe de tudo o que é necessário para revolucionar, se não a “burguesia com culpa”? Tempo, conhecimentos fundamentais, recursos financeiros, contatos profissionais, confiança no próprio poder, de tudo isso eles dispõem de sobra!

Não é sobre essências humanas e sim sobre transformação! Não é sobre moral e sim sobre fluxos de energia vitais... Não é sobre quem se é, e sim sobre o estado em que se está e que pode, ou não, evoluir em alguma direção… Que se evolua na direção do autoconhecimento e do equilíbrio, para além de raciocínios circulares e narcisismos áridos! É sobre isso a construção de uma “nova aristocracia”, como disse Nietzsche (no contexto do século XIX)! Sair da zona de conforto, anular bloqueios internos, superar obstáculos externos, ultrapassar-se... Emergindo do wokeísmo, Eduardo Moreira é uma exceção, mas ainda bem que há exceções!


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Indicados


EMBRULHA SEM ROTEIRO. Eduardo Moreira - A Transformação do Neoliberalismo ao Progressismo. Disponível na Internet em https://www.youtube.com/watch?v=aenFK9S0Rxc

EMBRULHA SEM ROTEIRO. Eduardo Moreira - Tragédia Social Sempre Foi Piada no Mercado Financeiro. Disponível na Internet em https://www.youtube.com/watch?v=8yypSyNQnz4

FISHER, Mark. Realismo Capitalista: é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo? São Paulo: Autonomia Literária, 2020, p. 203.

NIETZSCHE, Friedrich. Além do Bem e do Mal. São Paulo: Companhia das Letras, 2005, p. 153.

TV CULTURA. “Os wokes são um fetiche do capitalismo", afirma Pondé. Disponível na Internet em https://www.youtube.com/watch?v=mfOCYr_9_Cw


Imagens

Eduardo Moreira. Fonte: https://images.app.goo.gl/CvwpGfnsaRx5Ycrv5

Natação. Fonte: https://images.app.goo.gl/EaU4c2BsEurKFXvx5