Estado Absolutista ou Democrata, em Hobbes e Rousseau

Estado de Natureza, Robbes, Rousseau, Sociedade, Estado, Filosofia, Ética, Política
 Batalha de Campo Grande, de Pedro Américo (1843-1905)

Para Hobbes, assim como para Rousseau, deixando o estado de natureza, as subjetividades se transformam e os seres humanos sentem a necessidade de viver em sociedade. Porém, há diferenças no modo de pensar de ambos. 


O pensamento de Hobbes e de Rousseau, quanto à natureza humana e à forma primitiva de vida, parecem antes complementares do que contrárias. Rousseau refere-se a um estágio da existência humana anterior àquele pensado por Hobbes. Em um esforço de abstração, apresenta sua visão de humanidade que percorre um lento processo de transformação. Aborda o homem em integração com as forças da natureza que influenciam sua vida psíquica, transformando, pouco a pouco, a sua percepção do mundo por força da necessidade de sobrevivência frente a um ambiente hostil.

Hobbes, por sua vez, parte do momento em que o homem, já confrontado pelas dificuldades de sobrevivência, conta com uma vida interior que lhe permite ter consciência de si e do que lhe é exterior. Diferenciando, mesmo que de forma rudimentar, o eu interior e o mundo, já pode fazer comparações e julgamentos de valor, identificando acertos e erros, tomando como parâmetros os resultados que lhe favorecem ou não.

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Reflexão, necessidades individuais e luta por satisfação, mescladas a sentimentos como medo, desconfiança e ambição, são características da natureza humana e da vida em estado de natureza na concepção de Hobbes. O homem é agressor, seu comportamento é violento, porém sua luta é por manter-se vivo e é legítima.

Para Rousseau, a consciência de si e do outro, a reflexão e o juízo, surgem em relação íntima com o emprego das ferramentas e o nascimento das técnicas. Estes são elementos que distanciam o homem de sua vida interior e da perfeita harmonia com a natureza. O conflito, para Rousseau, parece surgir, inicialmente, de forma circunstancial e inocente. O homem primitivo não tem noção de bem e mal, vive em estado amoral ou pré-moral, de forma inocente. Suas lutas primitivas são permeadas pela necessidade de sobrevivência.

Hobbes diverge dessa interpretação. Para ele, o homem é naturalmente propenso à disputa entre si, à luta pela satisfação individual e avesso á vida em grupo. Um individualista e solitário que somente pela necessidade de sobreviver, por força do nível máximo de tensão e medo proporcionados pelo estado de guerra de todos contra todos, procura associar-se a outros para selar a paz. Rousseau reconhece a corrupção à qual o homem é lançado na busca pela sobrevivência, mas a ameniza considerando a fragilidade humana diante das possibilidades de engano.

Enquanto para Hobbes o fim do estado de natureza decorre do insuportável estado de guerra de todos contra todos, para Rousseau, o pacto social surge do reconhecimento da impossibilidade de manutenção de vidas solitárias e da necessidade de um “corpo” que sintetize a vontade de todos e os digira. A partir dessa divergência de perspectivas entre Hobbes e Rousseau também se compreende suas concepções de Estado, o “corpo” destinado a estabelecer e manter a paz, e oferecer condições de vida aos homens, ou seja, o Estado absolutista de Hobbes e o Estado democrático de Rousseau.

A História mostra que Rousseau provavelmente está certo... E Hobbes também! Sempre houve, e continua havendo, tipos humanos que privilegia a paz e, não raro, a vida com pouca interação social, uma existência mais recolhida, dedicada, por exemplo, aos estudos e ou à religiosidade. Outros possuem tendências mais belicosas e tentem a preferir a vida mais aberta aos espaços públicos, como os miliares, ou as indivíduos de personalidade mais extrovertida. Na esfera política, as origens dos conflitos entre tendência democratas e conservadoras se perdem no tempo. Assim, a paz é sempre uma conquista perene e a busca pela manutenção de condições de vida sempre sujeita a desequilíbrios. A aposta que se tem feito na democracia é uma ousadia que procura favorecer a evolução de todos de um modo ético, de modo a se alcançar a liberdade madura e responsável.


Para Saber Mais

HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso Sobre as Origens e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens. Col. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 87, vol. II.